SEDA NA MITOLOGIA CHINESA
PESQUISA DE ADELAIDE
ABREU-DOS-SANTOS
Falar
da China é falar da seda. A cultura do bicho-da-seda, a sua transformação como
o bem mais valioso do comércio chinês de outros tempos transformou a visão do
mundo de então.
Texto Fernando Sales
Lopes
A
China começou a produzir o fio de seda há mais de 5000 anos – nas escavações
arqueológicas das ruínas de BanPo foram encontrados restos de casulos que
atestam a antiguidade da produção de seda na China. Documentos arqueológicos
revelaram que na Dinastia Zhou do século 10a.C. os nobres chineses usavam
roupas de seda com ricos motivos, coloridos, estampados e bordados. O material era
também usado amplamente pelo povo, certamente em indumentárias menos
sumptuosas. Durante alguns longos séculos até à Dinastia Han, só ao Império do
Meio pertenciam os bem guardados segredos dos modos e formas de transformar a
baba do bicho-da-seda nos mais valiosos e cobiçados tecidos do mundo de então.
Revelar
o processo da criação do bicho-da-seda e a sua transformação a estrangeiros era
estritamente proibido, assim como a exportação do bicho-da-seda. O comércio da
seda era monopólio imperial, o bem mais valioso da China. A política de sigilo
foi o vector crucial para o apetite dos diversos mercados.
Apenas
a China produzia a seda e mais nenhum outro sítio o fazia. O Império Romano era
então o maior comprador de seda. A transação do produto era feita em ouro, isso
fez com que Roma tivesse uma “crise financeira” provocada por este comércio, pois
o ouro começava a escassear em Roma, tendo o Senado chegado, por esse motivo, a
proibir o uso da seda na confecção do vestuário. Consta que a determinação terá
sido raramente cumprida, pois o luxo, a ostentação era apanágio dos romanos, e
a seda era marca de nobreza.
Antes da Dinastia Song(968-1279) a indústria da seda estava confinada ao norte da China, mas rapidamente chegou ao delta de Yangtzé, assumindo-se como o centro nacional de produção do produto. A exclusividade foi quebrada 3000 anos depois da sua descoberta, altura em que o processo de cultura e confecção foram conhecidos na Índia, na Coreia e no Japão.
A MENINA BICHO-DA-SEDA
Conta o mitológico conto que no tempo do Imperador Amarelo
havia uma jovem que vivia no campo com o seu pai, tendo apenas por companhia um
cavalo que tratava com todo o carinho. O cavalo ajudava nos trabalhos da
lavoura e servia de meio de transporte dos produtos produzidos. Transporte para
o pai da jovem vender nas feiras os seus produtos e para transportar as cargas.
De vez em quando, o pai da menina deslocava-se
para sítios longínquos por longos períodos de tempo. A menina ficava esperando
pelo pai, tendo por companhia apenas o cavalo, distraía-se brincando com ele e
montando-o para breves passeios, pois temia afastar-se da sua casa devido aos
perigos que podia correr principalmente dos assaltantes que por vezes andavam
por aquelas terras próximas. Eram os conselhos do pai que seguia a rigor. Mas, desta
vez, a viagem teria sido mais longa, o regresso do pai tardava e as saudades angustiavam
a jovem. O cavalo, como se entendesse tal estado de espírito, sentou-se à
frente dela com ar triste e com um olhar como se dissesse: o que eu poderei
fazer por ti, minha amiga?
A menina com uma lágrima de saudade
virou-se para o cavalo dizendo-lhe: “Morro de saudades do meu pai. Se
conseguisses ir buscá-lo agora casava contigo”. De seguida, deu uma enorme
gargalhada por ter prometido casamento a um cavalo. Ao mesmo tempo o cavalo
relinchou, levantou as patas dianteiras, deu um salto colossal e correu
deixando-se perder de vista em breves minutos. Por longos dias a menina
esperou, por longos dias o cavalo correu até encontrar o dono, que vendo o
animal todo suado e emagrecido, percebeu que a corrida fora grande e ansiou que
alguma coisa poderia ter acontecido à sua filha.
O cavalo deitou-se para descansar um
pouco, mas rapidamente se levantou relinchando como se dissesse: “Vamos voltar
para casa!”. O pai da menina percebeu, saltou para a garupa, o cavalo virou
para a direção da casa e só parou quando chegou à porta. A menina ficou
estupefacta com o que estava a acontecer, agradecendo ao animal por ter trazido
o pai de volta.
O
pai, como forma de agradecimento, fez umas festas no pescoço do animal e foi
preparar a cocheira com uma boa cama de palha nova e uma refeição especial de
boas e viçosas ervas, cenouras e favas secas. Contudo, o cavalo desprezou o
banquete, entrando numa excitação nunca vista pelo dono. Esta situação
prolongou-se por uns dias.
Perante
esta situação, o pai da jovem perguntou-lhe se ela sabia a razão do estranho
comportamento do animal. Ela então resolveu contar ao pai a promessa de
casamento com o cavalo, caso ele lhe trouxesse de volta o progenitor de quem
tinha tantas saudades. “A minha filha não vai casar com um cavalo. Não pode
ser!”, vociferou o homem. “Não vou deixar que isso aconteça!”
O
homem começou a pensar o que fazer, até porque o cavalo não parava quieto, continuando
aos pulos e a relinchar desalmadamente. Um dia, sem que ninguém desse por nada,
na calada da noite, o pai saiu com o cavalo para lugar distante, matou-o e
esfolou-o, pendurando a pele a secar em local afastado das vistas de curiosos. E
seguiu para a sua vida.
A jovem estranhou a ausência do amigo, perguntando
ao pai o que acontecera. O pai disse também achar estranha a ausência, mas que
certamente tinha fugido. Tempos depois, andando a jovem pelo campo com as suas
amigas, brincando e apanhando flores, viu a pele do cavalo a secar e, raivosa,
gritando: “Querias casar comigo?”. Puxa a pele para o chão, batendo-lhe com um
pau enquanto repetia: “Querias casar comigo?”
De repente, veio uma rabanada de vento, a pele do
cavalo envolveu o corpo da jovem e voou pelos ares desaparecendo. O pai da
jovem juntou gente para fazerem batidas para encontrar a jovem. Depois de muito
procurar o homem vê a pele do cavalo presa numa árvore que enrolava algo no seu
interior. Era a jovem encasulada, agora transformada num bichinho que deixava
escorrer da boca fios dourados e prateados. A menina era o bicho-da-seda, a
árvore, a amoreira que a alimentava. Assim foi criada a seda, e a menina ficou
a ser a divindade da sericultura.
Uma outra versão da lenda refere um banquete
oferecido pelo Imperador Amarelo aos deuses no monte KunLun. Nessa ocasião, o
embrulho com o bicho-da-seda terá voado pelos salões e o casulo terá caído na
taça do fervente chá da Imperatriz. Ao agarrar o casulo para o retirar da taça,
este começou a deixar escorrer finos fios dourados e prateados. Estava
descoberta pela concubina imperial Lei Zu a forma de trabalhar os fios da seda.
ROTAS DA SEDA
ROTA DA SEDA NO SÉCULO II
A nova rota da Seda vai passar pelo Irã, pelo Iraque e pela Síria
" O presidente chinês Xi Jinping é esperado na Itália em visita oficial, dia 22 de março. Principal tema de discussão será a Nova Rota da Seda, ou a Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE). Um dia antes, em Bruxelas, a União Europeia deve debater uma estratégia comum relacionada aos investimentos chineses na Europa.
"Parte substancial da União Europeia já está conectada de fato com a Rota da Seda. Incluem-se nisso Grécia, Portugal, 11 nações da União Europeia que constituem o Grupo 16+1, de China plus Europa Central e Oriental e, para todas as finalidades práticas, a Itália."
A antiga Rota da Seda abarcava inúmeras rotas
comerciais que se relacionavam entre si. O comércio da seda ampliou estas rotas
comerciais já existentes, criando uma rede de comunicação numa extensão de 800 quilómetros,
desde a actual Xi’na à Ásia ocidental. Era uma actividade comercial que
pretendia escoar bens de e para a China e a Europa. O controlo da rota pela
China obrigou a grandes esforços militares. Foi o Imperador Wu da Dinastia Han(206
a.C. – 220d.C.) a conseguir estender a influência chinesa das montanhas até ao Mar
Cáspio.
A Rota da Seda desenvolveu-se em duas grandes
estradas comerciais: a rota continental – norte e sul – e a rota marítima. No
início a rota ligava Xian a Antioquia, na Ásia menor, mas rapidamente se
estendeu até à Coreia e ao Japão, naquela que passou a ser a maior rede
comercial da antiguidade. A importância das rotas transcendeu a vertente
comercial, pois a passagem por importantes civilizações e culturas,
nomeadamente Egipto, Mesopotâmia, China, Pérsia, Anatólia, Itália e Roma, entre
outras, abriu uma porta intercultural que proporcionou que esses contactos
entre povos de culturas diferentes se transformassem numa gigante porta de
entrada de conhecimentos que foram partilhados, por diferentes culturas e
civilizações.
A Rota da Seda teve o seu pico no decorrer da Dinastia
Tang(618 – 906), com o esplendor de Xi’an, conhecida ao tempo como a maior
cidade do mundo. Nela se cruzava gente de todos os cantos. Ali chegavam
conhecimentos de toda a sorte, diferentes usos e costumes, modos de vida, conhecimentos
técnicos e científicos. A isso se misturavam novas línguas e culturas e se
cruzavam religiões diversas. Conheciam-se e discutiam-se valores, práticas,
crenças, como o budismo, o islamismo, o nestorianismo, entre outras. O mundo abriu-se
para a humanidade. Conheceram-se as diferenças e as semelhanças, o nascimento
de um mundo novo.
A rota marítima incluía Macau e estendia-se, a Sul,
pela costa meridional da China, Brunei, Sião, Malaca, Índia, Pérsia, Egipto,
Itália, Portugal, entre outros, nos quais se incluem reinos nórdicos.
AMOSTRAGEM Da
SEDA e sua beleza
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