Autoritarismo x Empatia
ANTONIO MARCOS FALQUETO
Lembrei
de uma história interessante que se passou comigo onde eu morava. Era um lugar
seguro e tranquilo. Dizem que era por causa de um Coronel que, vez em quando
pedia um passeio da polícia por ali para evitar encrencas. O Coronel (nem sei
se era mesmo Coronel ou se era apenas como era chamado) era do tipo
autoritário. Mas dava pra conversar e, receio, não fosse tão autoritário dentro
de casa, porque, pelo pouco que pude perceber havia alguém mais autoritária que
ele dentro da sua casa. E terrível! Barraco e confusão com vizinhos estavam
sempre associados em referência a essa pessoa. Lembro uma vez que reclamou com
minha filha sobre andar de patins na sua calçada. Fui lá eu andar de patinete
na calçada, mas ninguém apareceu e acabei esquecendo o assunto. Mas a minha
história é outra.
A
rua em que eu morava era um pouco mais movimentada que a do Coronel que não
tinha saída. Certa vez, num domingo à tarde, vi um bando de garotos no
cruzamento treinando manobras com skate, eram os meninos pobres do morro
vizinho que tinham todos apenas um skate surrado que compartilhavam. Observei.
Passou um carro numa velocidade perigosa e fiquei preocupado. Como resolver?
-
Meninos, porque é que vocês não vão treinar naquela rua ali, que não passam
carros?
-
Mas tio, a gente tava ali. Daí apareceu uma senhora que falou que ia
chamar a polícia. Então a gente veio pra cá.
-
Hmmm! Tá certo. Então vamos fazer uma coisa. Eu vou colocar um carro
aqui, outro lá. Aqui na frente da minha casa. Vou colocar uns cones e vocês
treinam aqui no espaço entre os dois carros. Fechado?
- Oba, valeu tio!
E
assim foi dessa vez e de outras mais. Às vezes passava uma água ou suco. E
ficava ali na calçada, eu gostava de ver os garotos tentando fazer o que
gostavam, e tentando fazer cada vez melhor.
Acontece
que o tempo passa. A gente fica de cabelos brancos. As crianças crescem. E
seguimos sempre trabalhando, felizmente. E às vezes até tarde. Numa noite
escura vinha eu a pé, pela rua de casa já, e vi um bando de homens grandes com
capuz do outro lado da rua. Estava frio. As criaturas mudaram de calçada e eu
pensei... É comigo! Gelei. Chegaram perto e pararam, dois tiraram o capuz.
-
Oi tio! Tudo bem? E me deram tapinha nas costas. Reconheci pelo menos um
daqueles meninos.
-
E aí meninos. Se cuidem. Tá frio!
-
Vai com Deus tio! Precisando da gente, tamo na área!
Sempre
tive curiosidade de saber o que aconteceria se ao invés de mim fosse uma pessoa
autoritária, ali na rua, à noite. Temi pelos rapazes. Tendo oportunidade,
sempre é bom plantar boas sementes.
RESULTADO: HARMONIA
FIM