terça-feira, 2 de setembro de 2014

PESQUISA DE ADELAIDE ABREU-DOS-SANTOS - 1ª PARTE - A HISTÓRIA DA DANÇA

A HISTÓRIA DA DANÇA
         
                Transcrevemos o artigo de Maria Taglioni sobre a História da Dança por termos achado relevante.
       A dança surgiu antes mesmo de o homem ser homem. Nos rituais pré-históricos, era uma das principais formas de expressão e de aproximação dos Deuses. Durante toda a história humana, a dança esteve presente, sendo considerada divina ou maldita, mas sempre fazendo parte da vida cotidiana das mais incríveis sociedades. Fizemos uma pesquisa minuciosa para você aprender, usar na escola, ler por diversão, e, principalmente, conhecer melhor como surgiu e como se desenvolveu essa atividade que faz parte de nossa vida e nos traz tanta alegria e prazer.


               A dança surgiu na Época Paleolítica, antes mesmo de o homem aprender a cultivar a terra, quando ainda migravam buscando um lugar para caçar, colher e pescar. As figuras desenhadas, que nos servem de documentos sobre essa era, representavam os animais e as caçadas, raramente os homens. No entanto, desenhos que representam um mesmo movimento foram encontrados nas regiões mais variadas, como a Europa e a África do Sul. Essas figuras comprovam que a humanidade tem um fundo cultural comum. Nelas, a cabeça está voltada para frente, o tronco apresenta-se num falso perfil, os dois braços em semi-extensão, com o direito um pouco mais alto que o esquerdo. O corpo está inclinado em relação às pernas, que estão levemente flexionadas. A perna esquerda está à frente da direita, com o pé no chão, e o pé direito está em relevé. O conjunto do desenho aparenta um giro com as pernas flexionadas, e a figura está vestida com uma pele de bisão e máscara de rena ou cervo. ("A figura de trois-Frères", em Montesquiou-Avantès).
       Como tudo que era desenhado tinha caráter sagrado, presume-se que esta era uma dança sagrada. O giro, mesmo nesses homens pré-históricos, provocava sensação de vertigem e uma espécie de desapossamento de si mesmo, o que nos leva a acreditar que essa dança era uma forma de "entrar em contato com os espíritos ou qualquer entidade 'superior' ". Essa era a dança participativa: o homem participava dos rituais. No período Neolítico o homem aprende a cultivar e se organiza em grupos e até em cidades. Surge um esboço de classe sacerdotal, que vai "supervisionar" os rituais de dança, não os deixando ao acaso das inspirações individuais. Dessa forma, a dança deixa de ser participativa para se tornar representativa: o homem deixa de entrar em contato com os espíritos para começar a representar os mitos e os Deuses. A dança representativa utiliza máscaras, e, ao contrário de sua antecessora, é feita em grupo. São danças de roda e em filas, e seus participantes se encontram, na maioria das vezes, de mãos dadas. Esse tipo de dança pode aparecer como uma forma de dança litúrgica, como nos rituais dos enterros egípcios. As primeiras referências às danças recreativas também são do Egito Antigo: os desenhos e esculturas da época retratam acrobacias, como figuras com a cabeça e todo o corpo para trás formando uma ponte (fragmento da dançarina, no museu de Turim). 
     O povo hebreu foi o único a não transformar sua dança em arte, pois eram proibidos por sua religião de representarem seres vivos. Suas danças eram espontâneas nas multidões, principalmente em rodas e fileiras. O principal documento que descreve a dança hebraica é a Bíblia, onde se encontram várias citações:
      Danças em fileiras aparecem, por exemplo:
* no Êxodo 15, quando a profetisa Míriam, irmã de Moisés, com tamborim na mão, dirige um coro de mulheres para celebrar a passagem pelo Mar Vermelho;
* o mesmo rito será dançado na vitória de Jefté (Juízes 11, -34),
* na vitória de Davi sobre Golias (Samuel 18, 6-7),
* na vitória de Judith sobre Holoferno (Judith 15, 12-13).
 As rodas são evocadas em:
* no Êxodo 32, quando, ao descer do Sinai, Moisés encontra seu povo dançando em torno do Bezerro de Ouro;
* nos Salmos (26, 6): "Javé, ando em roda em torno de teu altar".
* As "jovens de Silo" dançam em roda nos vinhedos, sem dúvida durante a festa dos Tabernáculos, quando os homens de Benjamin vêm raptá-las (Juízes 21, 19-23).
        Uma dança importante, que deve ser estudada mais detalhadamente, é a famosa dança de Davi quase nu diante do Arco, ao voltar de Jerusalém (Samuel 6). Essa dança se caracteriza por giros e saltos, lembrando a dança pré-histórica, e talvez a nudez de Davi esteja relacionada, milhares de anos depois, àqueles rituais.

    Na Grécia antiga a dança aparece completamente presente em quase todos os setores da vida social: na religião, na educação, nas datas de comemorações, nos ritos agrários, nos estudos filosóficos e na vida cotidiana.
        As danças religiosas eram as mais diversas possíveis: cada Deus tinha seu próprio rito, e cada rito ainda tinha variações regionais. Os rituais mais conhecidos atualmente são os Dionisíacos, ou seja, do Deus Dionísio, o Deus do despertar primaveril da vegetação, da fertilidade e da fecundidade, do entusiasmo e da embriaguez, do transe, do irracional. Suas danças sofreram enormes modificações com o tempo: De cerimônia litúrgica com data fixa no calendário, tornou-se cerimônia civil, depois ato teatral, para finalmente ser conhecida como dança de diversão. De dança sagrada, passou a ser dança profana, seguindo assim um movimento (sagrado-profano) encontrado em muitos aspectos das culturas antigas. Um exemplo da dança Dionisíaca era um cortejo, onde Dionísio era acompanhado por mênades (espécie de ninfa que representava uma amante insaciável) e sátiros, cujos movimentos eram de passos corridos ou escorregadios, braços escondidos em oposição, saltos com pernas esticadas ou flexionadas, torso, pescoço e cabeça jogados para trás num gesto típico que parecia triturar a nuca.
        Encontramos algumas citações interessantes dos filósofos gregos sobre a dança. Platão estudou a dança e a classificou em dança de beleza e dança de feiúra, com subgrupos (Leis, I); segundo ele, ordem e ritmo, características dos Deuses, são também as da dança (Leis, II); "A dança é um meio excelente de ser agradável aos Deuses e honrá-los" (Leis, VI); "Os que honram melhor os Deuses pela dança são também os melhores no combate" (Leis, VII); e além de tudo isso, dá proporções corretas ao corpo. Os filósofos Pitagóricos afirmavam que "a dança expulsa os maus humores da cabeça", um bom exemplo da crença de que a dança era divina porque dá alegria. Uma canção de Anacreonte diz: "Quando um velho dança, conserva seus cabelos de ancião, mas seu coração é o de um jovem". Por não separarem o corpo do espírito, e por ser a dança uma forma de integrá-los, os Gregos consideravam a dança um dom dos imortais. Para eles, "os Deuses ensinaram a dança aos mortais, para que estes os honrassem e os alegrassem através dela".
        O teatro grego apresenta vários elementos com dança: os coros das tragédias e das comédias clássicas podiam dançar, sendo que alguns coros apenas dançavam, enquanto outro cantava "em off", num processo parecido com a dublagem. Na comédia a dança era um pouco mais movimentada que na tragédia, e caracterizava-se por saltos, pelo busto quebrado para frente e por ondulações no quadril, que podiam lembrar a dança do ventre. Havia ainda outros tipos de danças, como a sikinnis, a dança da farsa, um estilo de teatro que mais tarde transformou-se na comédia dell'arte.
      O cotidiano do povo grego era infestado de danças. Eles dançavam em ocasiões como nascimentos, passagem de efebos para cidadãos, núpcias, banquetes, e outros. Essas danças eram livres, não havendo uma lista de passos preestabelecidos ou que deveriam ser aprendidos, mas rodas e filas espontâneas. Os gregos costumavam dançar na meia ponta, as vezes tão alta que era representada como ponta. Buscavam a simetria, principalmente dos membros. Havia ainda uma posição muito comum: o pé colocado na altura do jarrete (articulação atrás do joelho), lembrando um passé.
    Existiam danças com técnicas e passos convencionados, mas essas eram as danças dos cultos, dos teatros ou das celebrações tradicionais. Uma das danças mais importantes era a pírrica, a dança guerreira e competitiva usada na educação e na preparação militar. As crianças a aprendiam desde os 5 anos, e o aprendizado compreendia exercícios preparatórios de flexibilidade onde os participantes jogavam o corpo para trás até alcançarem os tornozelos com as mãos. Em seguida, vinham os exercícios de quironomia, nos quais aprendia-se o porte dos braços e das mãos e simulava-se gestos de combate. Em ocasiões solenes, os pirriquistas eram recrutados e treinados por cidadãos ricos, e concorriam entre si nas apresentações: o primeiro classificado ganhava um boi no valor de 400 gramas de prata, para ser sacrificado. Em outras danças, praticadas por mulheres, encontramos gestos interessantes, e um especial: com os braços em oposição, a dançarina quebra os antebraços na altura dos cotovelos, colocando-os num ângulo de 90º, um para baixo e um para cima. No primeiro caso, a palma da mão se abre em direção ao chão e, no outro, em direção ao céu. Esse gesto foi encontrado em representações das mais diversas danças, desde as pré-históricas às egípcias, e ilustra o intercâmbio que houve entre as civilizações. Nos banquetes, dançarinas profissionais executavam movimentos provocantes e acrobáticos, acompanhadas por uma tocadora de aulos. Existiam passos e nomenclatura, e um exemplo é a kubistésis: a dançarina saltava sobre as mãos, com a cabeça jogada para frente e ou recaía sobre os pés ou permanecia equilibrada sobre as mãos e esboçava passos com os pés. Havia ainda convenções com significações: os braços estendidos com as mãos voltadas para o céu significavam súplica, as mãos estendidas diante do espectador significavam apóstrofe ao público e as mãos horizontais, paralelas ao chão, significavam tristeza.
       Todas as danças e movimentos estão gravados em vasos, além dos escritos dos filósofos e estudiosos que dedicaram seu tempo às danças. Podemos encontrar representações da pírrica, por exemplo, no flanco da Acrópole e no friso do Partenon.

aguarde a Continuação