51° 23′ N 30° 06′ E Localização da Usina Nuclear de Chernobil, Imagem de satélite da área atingida pelo acidente na Ucrânia.
CAUSAS
Há duas teorias
oficiais, mas contraditórias, sobre a causa do acidente. A primeira foi
publicada em agosto de 1986, e atribuiu a culpa, exclusivamente, aos operadores
da usina. A segunda teoria foi publicada em 1991 e atribuiu o acidente a
defeitos no projeto do reator RBMK, especificamente nas hastes de controle. Ambas as teorias foram
fortemente apoiadas por diferentes grupos, inclusive os projetistas dos
reatores, pessoal da usina de Chernobil, e o governo. Alguns especialistas
independentes agora acreditam que nenhuma teoria estava completamente certa. Na
realidade o que aconteceu foi uma conjunção das duas, sendo que a possibilidade
de defeito no reator foi exponencialmente agravado pelo erro humano.
Porém o fator mais
importante foi que Anatoly Dyatlov, engenheiro chefe responsável pela
realização de testes nos reatores 3 e 4, mesmo sabendo que o reator era
perigoso em algumas condições e contra os parâmetros de segurança dispostos no
manual de operação, levou a efeito intencionalmente a realização de um teste de
redução de potência que resultou no desastre. A gerência da instalação era
composta em grande parte de pessoal não qualificado em RBMK: o diretor, V.P.
Bryukhanov, tinha experiência e treinamento em usina termoelétrica a carvão.
Seu engenheiro chefe, Nikolai Fomin, também veio de uma usina convencional. O
próprio Dyatlov somente tinha "alguma experiência com pequenos reatores
nucleares".
EM PARTICULAR:
O reator tinha um fração de vazio positivo perigosamente alto. Dito
de forma simples, isto significa que se bolhas de vapor se formam na água de
resfriamento, a reação nuclear se acelera, levando à sobre velocidade se não houver
intervenção. Pior, com carga baixa, este coeficiente a vazio não era compensado
por outros fatores, os quais tornavam o reator instável e perigoso. Os
operadores não tinham conhecimento deste perigo e isto não era intuitivo para
um operador não treinado.
Um defeito mais
significativo do reator era o projeto das hastes de controle. Num reator
nuclear, hastes de controle são inseridas no reator para diminuir a reação.
Entretanto, no projeto do reator RBMK, as pontas das hastes de controle eram
feitas de grafite e os extensores (as áreas finais das hastes de controle acima
das pontas, medindo um metro de comprimento) eram ocas e cheias de água,
enquanto o resto da haste - a parte realmente funcional que absorve os nêutrons
e portanto pára a reação - era feita de carbono-boro. Com este projeto, quando
as hastes eram inseridas no reator, as pontas de grafite deslocavam uma
quantidade do resfriador (água). Isto aumenta a taxa de fissão
nuclear, uma vez que o grafite é um moderador de nêutrons mais potente.
Então nos primeiros segundos após a ativação das hastes de controle, a potência
do reator aumenta, em vez de diminuir, como desejado. Este comportamento do
equipamento não é intuitivo (ao contrário, o esperado seria que a potência
começasse a baixar imediatamente), e, principalmente, não era de conhecimento
dos operadores.
Os operadores
violaram procedimentos, possivelmente porque eles ignoravam os defeitos de
projeto do reator. Também muitos procedimentos irregulares contribuíram para
causar o acidente. Um deles foi a comunicação ineficiente entre os escritórios
de segurança (na capital, Kiev) e os operadores encarregados do experimento conduzido
naquela noite.
É importante notar
que os operadores desligaram muitos dos sistemas de proteção do reator, o que
era proibido pelos guias técnicos publicados, a menos que houvesse mau
funcionamento.
De acordo com o
relatório da Comissão do Governo, publicado em agosto de 1986, os operadores
removeram pelo menos 204 hastes de controle do núcleo do reator (de um total de
211 deste modelo de reator). O mesmo guia (citado acima) proibia a operação do
RBMK-1000 com menos de 15 hastes dentro da zona do núcleo.
INDEPENDÊNCIA
Presidente ucraniano Leonid Kravtchuk e Boris Iéltsin assinando o Pacto de Belaveja, que tornava a Ucrânia independente.
O colapso da União Soviética em 1991
permitiu a convocação de um referendo que resultou na proclamação da
independência da Ucrânia. Após isso, o país experimentou uma profunda
desaceleração econômica, maior do que a de algumas das outras ex-repúblicas soviéticas. Durante a
recessão, a Ucrânia perdeu 60% do seu PIB entre 1991 e 1999, além
de ter sofrido com taxas de inflação
de cinco dígitos. Insatisfeitos com as condições econômicas, bem como as taxas
de crime e corrupção, os ucranianos protestaram e organizaram greves.
A economia ucraniana estabilizou-se até o final da
década de 1990. A nova moeda, o hryvnia, foi introduzida em 1996. Desde 2000, o país teve um
crescimento econômico real constante, com média de expensão do PIB de cerca de
7% ao ano.
A nova constituição
ucraniana, que foi adotada durante o governo do presidente Leonid
Kuchma em 1996, acabou por tornar a Ucrânia uma república
semipresidencial e estabeleceu um sistema político estável. Kuchma foi, no entanto,
criticado por adversários por corrupção, fraude eleitoral, desestimulação da liberdade de expressão e muita concentração
de poder em seu cargo. Ele também transferiu, por várias vezes, propriedades
públicas para as mãos de oligarcas fiéis a ele.
REVOLUÇÃO LARANJA
Manifestantes na Praça da Independência (Maidan
Nezalejnosti), no primeiro dia da Revolução Laranja
Em 2004, Viktor Yanukovych, então primeiro-ministro, foi
declarado vencedor das eleições presidenciais, que tinham sido largamente
manipuladas, como o Supremo Tribunal da Ucrânia constatou mais tarde. Os
resultados causaram um clamor público em apoio ao candidato da oposição, Viktor Yushchenko, que desafiou o resultado
oficial do pleito. Isto resultou na pacífica Revolução Laranja, a qual foi reprimida
violentamente, mas que trouxe Viktor Yushchenko e Yulia Tymoshenko
ao poder, enquanto lançou Viktor Yanukovych à oposição.
Yanukovych retornou a uma posição de poder em 2006, quando se tornou
primeiro-ministro da Aliança de Unidade Nacional, até que eleições antecipadas
em setembro de 2007 tornaram Tymoshenko primeiro-ministro novamente.
Disputas com a
Rússia sobre dívidas de gás natural interromperam brevemente todos
os fornecimentos de gás à Ucrânia em 2006 e novamente em 2009, levando à
escassez do produto em vários outros países europeus. Viktor Yanukovych foi
novamente eleito presidente em 2010,
com 48% dos votos.
EUROMAIDAN
Manifestantes do Euromaidan em Kiev em 18 de fevereiro de 2014
O protestos do Euromaidan começaram em novembro de 2013, quando os
cidadãos ucranianos exigiram uma maior integração do país com a União Europeia (UE). As manifestações foram provocadas pela
recusa do governo ucraniano em assinar um acordo de associação com a UE, que
Yanukovych descreveu como sendo desvantajoso para a Ucrânia. Com o tempo, o
movimento Euromaidan promoveu uma onda de grandes manifestações e agitação
civil por todo o país, o contexto que evoluiu para incluir clamores pela
renúncia do presidente Yanukovich e de seu governo.
A violência intensificou-se depois de 16 de janeiro
de 2014, quando o governo aceitou as leis Bondarenko-Oliynyk, também conhecidas
como leis antiprotestos. Os manifestantes antigoverno então ocuparam edifícios
do centro de Kiev, incluindo o prédio do Ministério da Justiça, e tumultos
deixaram 98 mortos e milhares de feridos entre os dias 18 e 20 fevereiro. Em 22
de fevereiro de 2014, o Parlamento da Ucrânia destituiu
Yanukovych por considerar o presidente incapaz de cumprir seus deveres e
definiu uma eleição para 25 de maio para selecionar o seu substituto.
Os resultados da eleição de 25 de maio de 2014
foram considerados pelo The New York Times como
"uma vitória decisiva na eleição presidencial ucraniana" para Petro Poroshenko. Esse venceu com uma plataforma pró-União Europeia, ganhando com mais de 50% dos votos e,
portanto, sem a necessidade de um segundo turno com Iúlia Timochenko, que
durante a eleição só foi capaz de reunir menos de um terço de seu número de
votos. Poroshenko anunciou que suas prioridades imediatas seriam tomar medidas
no conflito civil no leste da
Ucrânia e reatar os laços diplomáticos com a Rússia.
GUERRA CIVIL NO LESTE
Protesto
pró-Rússia na cidade de Donetsk em 9 de março de 2014
Após o colapso do governo de Yanukovych e a revolução resultante, em fevereiro de 2014 uma
crise de secessão começou na península da Crimeia, território ucraniano
que tem um número significativo de russófonos. Em 1 de março de 2014 o presidente ucraniano
exilado, Viktor Yanukovich, pediu
que a Rússia usasse forças militares "para estabelecer a legitimidade, a
paz, a lei e a ordem para defender o povo da Ucrânia." No mesmo dia, Putin
pediu e recebeu autorização da parlamento russo para implantar tropas militares na Ucrânia e
acabou por assumir o controle da Crimeia no dia seguinte. Além disso, a OTAN foi
considerada pela maioria dos russos como uma invasora de suas
fronteiras nacionais. Isso pesou muito na decisão de Moscou de tomar medidas para proteger seu porto localizado no Mar Negro, na Crimeia.
Soldados ucranianos na
região leste do país.
Em 6 de março de 2014 o parlamento da Crimeia
aprovou a decisão de "entrar para a Federação Russa, com os direitos de
uma entidade da Federação Russa" e mais tarde realizou um referendo popular
perguntando à população local se queriam juntar-se ao território russo como uma
unidade federal ou se
queriam restaurar a constituição de 1992 da Crimeia e seu status como
parte da Ucrânia. Embora tenha sido aprovada por uma esmagadora maioria, a
votação não foi monitorada por terceiros e os resultados são contestados por vários
países. Crimeia e Sevastopol declararam formalmente a sua
independência política sob o nome de República da Crimea e pediram que eles
fossem admitidos como membros constituintes da Federação Russa. Em 18 de março
de 2014, a Rússia e a Crimeia assinaram um tratado de adesão da República da
Crimeia e de Sevastopol à Federação Russa, apesar da Assembleia Geral das Nações
Unidas ter votado a favor de uma declaração não vinculativa para se
opor a anexação russa da península.
Uma agitação popular também começou nas regiões
leste e sul do país. Em várias cidades dessas regiões, como Donetsk e Lugansk, homens armados que se declararam
como uma milícia local, ocuparam prédios do governo e delegacias
policiais. Conversas em Genebra, na Suíça, entre União Europeia, Rússia, Ucrânia e Estados Unidos produziram uma declaração diplomática conjunta
referida como Pacto de Genebra de 2014, em que as partes solicitaram que todas
as milícias ilegais depusessem suas armas e desocupassem os prédios
públicos tomados, além de estabelecer um diálogo político que poderia levar a
uma maior autonomia para as regiões ucranianas.
Geografia
A Baía de Laspi no
litoral do Mar Negro, na Crimeia
O Ai-Petri tem 1234,2 metros de altura.
Com uma área de 603 700 km², a Ucrânia é o 44.° país do
mundo em território, um pouco maior que o estado brasileiro de Minas Gerais ou que a soma das áreas da Espanha e de Portugal. É o segundo maior
país da Europa, atrás da Rússia
Europeia e à frente da França metropolitana.
A paisagem
ucraniana é formada principalmente por planícies férteis ou estepes, e planaltos, atravessados por rios como o Dniepre, Donets, Dniester e o rio
Bug Meridional, que correm na direção sul e escoam no mar Negro e no pequeno mar de Azov. A sudoeste, o delta do Danúbio serve de fronteira com a Romênia. Só se encontram
montanhas a oeste, a cordilheira dos Cárpatos, cujo ponto
culminante é o Hora Hoverla (2061 m), e no sudeste da península da Crimeia, as cordilheiras.
Recursos naturais
significativos na Ucrânia incluem minério
de ferro, carvão, manganês, gás natural, petróleo, sal, enxofre, grafite, titânio, magnésio, caulim, níquel, mercúrio, madeira e uma grande abundância de terras aráveis. Apesar
disso, o país enfrenta uma série de importantes questões ambientais, tais como
suprimentos inadequados de água potável, poluição do ar e da água e
desmatamento, bem como a contaminação por radiação no nordeste do país, por conta do acidente nuclear de Chernobil, em 1986. A reciclagem de lixo
doméstico tóxico ainda está em processos iniciais na Ucrânia.
CLIMA
O clima da Ucrânia
é, em sua maior parte, temperado continental,
embora se possa encontrar um clima
mediterrâneo na costa
meridional da Crimeia. A precipitação é maior
no oeste e no norte e menor no leste e no sudeste. Os invernos são particularmente frios no interior; nos verões são particularmente quentes no sul.
DEMOGRAFIA
População da Ucrânia (em milhões) de
1950 a 2009
Conforme o censo
ucraniano de 2001, os ucranianos étnicos somam 77,8% da população.
As minorias incluem grupos
étnicos significativos de russos (17,3%), romenos (0,8%), bielorrussos
(0,6%), tártaros da Crimeia (0,5%), búlgaros (0,4%),
húngaros (0,3%),
poloneses
(0,3%), judeus (0,2%),
armênios
(0,2%), gregos (0,2%)
e tártaros
(0,2%).
O russo
é amplamente falado, em especial no leste e no sul do país. Segundo o censo, 67,5%
da população declararam falar o ucraniano como língua materna, contra 29,6% que
falam o russo como primeira língua. Algumas pessoas usam uma mistura dos dois
idiomas, enquanto que outras, embora declarem ter o ucraniano como língua
materna, usam o russo correntemente. O ucraniano literário é mais usado na
Ucrânia ocidental e central, enquanto que o russo predomina nas cidades da
Ucrânia oriental e meridional. O governo promove uma política de
"ucranização", com o emprego do ucraniano em escolas, repartições
públicas e parte da mídia, normalmente às expensas do russo; no cotidiano,
porém, as pessoas são livres para falar qualquer idioma. Na prática, a maioria
da população é bilíngue ou trilíngue, como no caso dos Tártaros da Crimeia, que vivem na região
meridional da Ucrânia, empregando o tártaro, o ucraniano e também podendo
empregar o russo. A significativa minoria romena e moldávia
localiza-se principalmente no Oblast de Chernivtsi.
Devido aos baixos
salários e ao desemprego, houve considerável grau de emigração
a partir do final dos anos
1990. Embora as estimativas variem, cerca de dois a três milhões de
ucranianos residem e trabalham no exterior, em sua maior parte ilegalmente.
Segundo estimativas da Embaixada da Ucrânia em Brasília,
há cerca de 500 000 ucranianos e seus descendentes no Brasil,
concentrados principalmente no estado do Paraná (90%),
provenientes de duas levas de emigração, a primeira no final do século
XIX, para trabalhar na agricultura, e a segunda no início do século XX, como
mão-de-obra na construção ferroviária. Em Portugal, o Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras divulgou em 2001 que há 40 000 ucranianos no país. Mas esse número pode ser
superior, já que existem imigrantes ilegais. A imigração ucraniana tem sido
importante para aumentar a população jovem de Portugal e preencher postos de
trabalho que a maioria dos portugueses prefere não ocupar. A maioria dos
ucranianos - muitos com educação superior - trabalha em obras públicas e em
serviços de limpeza. Portugal já reconhece diplomas ucranianos.
URBANIZAÇÃO
As regiões
industriais a leste e sudeste são as mais densamente habitadas. Cerca de 67,2%
da população vive em área urbana. As principais cidades do país (por população)
são Kiev, Carcóvia,
Dnipropetrovsk,
Odessa, Donetsk, Zaporíjia
e Lviv.
FOTOS DE KIEV
PORTO DE KIEV
DONETSK
ODESSA
DNIPROPETROVSK
fin
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